sexta-feira, 31 de julho de 2009

destino


Nem sempre somos nós que traçamos o destino, nem sempre o modelamos ao nosso bem entender. Por vezes perdemos coisas que julgámos ter sido culpa nossa para mais tarde entendermos que, afinal, não fomos nós nem o outro lado que errou, mas apenas o destino que achou não ser o espaço nem o tempo ideal. E é então, mais tarde, que o destino volta a encaixar o que em tempos separou. Isso aconteceu comigo.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

cais


Sento-me no cais. Vozes masculinas e pertinentes, murmuram algo que a distância a que me encontro do velho barco não me permite ouvir. "Levantem a ancora!" entoa uma delas, num tom grave e majestoso. Não hesitaria em dizer que falara o capitão. O barco parte e é então que reparo naquilo que a sombra deste me escondia. Um homem e uma mulher, sentados sobre a pedra escura que conduz até ao mar quem se atrever a percorre-la. Duas meras pessoas de meia idade. Senão fosse a maneira como se olham e se tocam, diria até que eram marido e mulher, mas não. Talvez amantes, talvez. Vejo-os agora a recuar, penso que terei perdido a noção de tempo, sim definitivamente. O que resta diante de mim é o mesmo barco velho. Já teve tempo de ir e regressar? Sem dúvida. Agora que olho, rapidamente, para o relógio reparo que é tarde, mais tarde do que, supostamente, deveria de ser. Na verdade o tempo não pára. É hora de partir e regressar ao meu cais, afinal, quem de nós não possui um?

segunda-feira, 15 de junho de 2009

meu tempo


Tempo incerto, perdido, mas, principalmente, só porque o tempo, o meu, pode perder-se no nada e vaguear longe de tudo o que o torna tempo.
Tempo que passa abstractamente, ainda que sem formas abstractas, consequentemente, reais.
Palavras. Levadas, de uma vasta e única vez, pelo tempo. Facilmente trocadas em segundos, que se tornam horas. Horas que se tornam dias. Dias que se tornam anos. E à medida desse avanço, as recordações acabam sempre, de uma maneira ou de outra, por cair no esquecimento.
Talvez nem as quiséssemos esquecer, talvez, realmente, fosse o melhor fazê-lo. Mas não saberemos, nunca, o certo e o errado. O tempo toma-nos as atitudes, e pouco resta de sensações outrora vividas, outrora sentidas, outrora sonhadas.
Em tempos, sonhar era deveras fácil, quando a vida tinha, ainda, aquele sabor especial de quem a vive como rara e, inversamente, comum que é; porque no outrora o tempo decorria, talvez até de modo já apressado, mas eu vivia, sentia, sonhava em cada segundo desse tempo.
Talvez um dia ele páre, e aí, eu me deixe de levar pela vida e um rumo seja meu, pois um dia, o coração deixa de bater.